Advérbios
QUESTÕES RESOLVIDAS E COMENTADAS
(cespe/cebraspe 2024) Texto V
Quando os jornais anunciaram para o dia 1.º deste mês uma parede de açougueiros, a sensação que tive foi muito diversa da de todos os meus concidadãos. Vós ficastes aterrados; eu agradeci o acontecimento ao céu. Boa ocasião para converter esta cidade ao vegetarismo.
Não sei se sabem que eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei ao uso da razão e organizei o meu código de princípios, incluí nele o vegetarismo; mas era tarde para a execução. Fiquei carnívoro. Era a sorte humana; foi a minha. Não importa, o homem é carnívoro.
Deus, ao contrário, é vegetariano. Para mim, a questão do paraíso terrestre explica-se clara e singelamente pelo vegetarismo. Deus criou o homem para os vegetais, e os vegetais para o homem.
Enfim, chegou o dia 1.º de março; quase todos os açougues amanheceram sem carne. Chamei a família; com um discurso mostrei-lhe que a superioridade do vegetal sobre o animal era tão grande, que devíamos aproveitar a ocasião e adotar o são e fecundo princípio vegetariano. Ervas, ervas santas, puras, em que não há sangue; todas as variedades das plantas, que não berram nem esperneiam, quando lhes tiram a vida. Convenci a todos; não tivemos almoço nem jantar, mas dois banquetes. Nos outros dias a mesma cousa.
O vegetarismo é pai dos simples. Os vegetarianos não se batem; têm horror ao sangue. Eu não me dou por apóstolo único desta grande doutrina. Creio até que os temos aqui, anteriores a mim, e, — singular aproximação! — no próprio conselho municipal. Só assim explico a nota jovial que entra em alguns debates sobre assuntos graves e gravíssimos.
Machado de Assis. Carnívoros e vegetarianos. In: A Semana, 1892 (com adaptações).
Ainda com base no texto V, julgue (C ou E) o item que se segue, relativos a seus aspectos morfossintáticos e semânticos.
No segundo período do terceiro parágrafo, estão coordenados um adjetivo, “clara”, que qualifica o termo “questão”, e um advérbio, “singelamente”, que exprime o modo como se dá a ação de explicar no contexto em questão. ERRADO
Ambos advérbios de Modo.
Trecho: Para mim, a questão do paraíso terrestre explica-se clara e singelamente pelo vegetarismo.
(fgv 2024) A frase em que o advérbio formado com o sufixo -mente mostra uma classificação diferente da de advérbio de modo, é:
A) O infiel não é necessariamente um descrente: pode ser um crente com uniforme errado.
B) Graças a Deus, vamos continuar a ser vergonhosamente ricos num país miserável.
C) São as nossas escolhas e não as nossas habilidades que verdadeiramente mostram quem somos.
D) Modernamente Pôncio Pilatos tornou-se mais popular que Jesus Cristo.
O advérbio de modo, geralmente, recai na forma de como a ação foi feita. O lenhador cortou a árvore rapidamente. De que modo ele cortou a árvore? Rapidamente. ATUALMENTE - MODERNAMENTE - BREVEMENTE - PRESENTEMENTE. Geralmente, essas palavras indicam tempo.
E) Os deuses fizeram o campo mais esplendidamente e melhor que tudo.
(fgv 2024) A palavra “simplesmente” pode funcionar como advérbio de modo ou como modalizador.
Assinale a frase machadiana abaixo em que funciona como advérbio.
A) Não tem frases feitas, nem frases rebuscadas; é simplesmente simples, se tal advérbio vai com tal adjetivo; creio que vai, ao menos para mim.
B) Nem casal, nem general. No dia sete de abril de 1870 veio à luz um par de varões tão iguais, que antes pareciam a sombra um do outro, se não era simplesmente a impressão do olho, que via dobrado.
C) Inclinou-se, para vê-lo de mais perto, e não perdeu o tempo nem a intenção. Visto assim, era mais belo que simplesmente conversando das coisas vulgares e passageiras.
D) Não querendo dar a resposta nua e crua, D. Rita consultou a moça, que lhe respondeu simplesmente: — Diga que não pretendo casar.
O advérbio de modo exprime como a ação foi realizada, correto? Nesse caso, o "simplesmente" não seria advérbio de modo nas alternativas A,B e C. Por quê? Pois ele está agindo em verbos de estado (ser ou estar) que não exprimem ação. A dúvida seria entre D e E. D: de que maneira/modo ela respondeu a pergunta? De forma simples, ou seja, ela não enrolou. E: de que maneira ele não cuidou de nada? De forma simples? Não faz sentido. Logo, isso é um modalizador, marca uma opinião, ponto de vista.
E) No dia seguinte ao do caso de Santa Teresa, acordou opresso. Almoçou mal. Não cuidou simplesmente de nada; calçou as chinelas africanas sem interesse, não mirou as alfaias belas, ou ricas, que lhe enchiam a casa.
(fgv 2006) Texto I
As Time Goes By
Conheci Rick Blaine em Paris, não faz muito. Ele tem uma
espelunca perto da Madeleine que pega todos os americanos
bêbados que o Harry’s Bar expulsa. Está com 70 anos, mas
não parece ter mais que 69. Os olhos empapuçados são os
5 mesmos mas o cabelo se foi e a barriga só parou de crescer
porque não havia mais lugar atrás do balcão. A princípio ele
negou que fosse Rick.
– Não conheço nenhum Rick.
– Está lá fora. Um letreiro enorme. Rick’s Café Americain.
10 – Está? Faz anos que não vou lá fora. O que você quer?
– Um bourbon. E alguma coisa para comer.
Escolhi um sanduíche de uma longa lista e Rick gritou o
pedido para um negrão na cozinha. Reconheci o negrão. Era o
pianista do café do Rick em Casablanca. Perguntei por que ele
15 não tocava mais piano.
– Sam? Porque só sabia uma música. A clientela não
agüentava mais. Ele também faz sempre o mesmo sanduíche.
Mas ninguém vem aqui pela comida.
Cantarolei um trecho de As Time Goes By. Perguntei:
20 – O que você faria se ela entrasse por aquela porta agora?
– Diria: "Um chazinho, vovó?" O passado não volta.
– Voltou uma vez. De todos os bares do mundo, ela tinha
que escolher logo o seu, em Casablanca, para entrar.
– Não volta mais.
25 Mas ele olhou, rápido, quando a porta se abriu de repente.
Era um americano que vinha pedir-lhe dinheiro para voltar aos
Estados Unidos. Estava fugindo de Mitterrand. Rick o ignorou.
Perguntou o que eu queria além do bourbon e do sanduíche
do Sam, que estava péssimo.
30 – Sempre quis saber o que aconteceu depois que ela
embarcou naquele avião com Victor Laszlo e você e o inspetor
Louis se afastaram, desaparecendo no nevoeiro.
– Passei quarenta anos no nevoeiro – respondeu ele.
Objetivamente, não estava disposto a contar muita coisa.
35 – Eu tenho uma tese.
Ele sorriu.
Mais uma...
– Você foi o primeiro a se desencantar com as grandes
causas. Você era o seu próprio território neutro. Victor Laszlo
40 era o cara engajado. Deve ter morrido cedo e levado alguns
outros idealistas como ele, pensando que estavam salvando o
mundo para a democracia e os bons sentimentos. Você nunca
teve ilusões sobre a humanidade. Era um cínico. Mas também
era um romântico. Podia ter-se livrado de Laszlo aos olhos
45 dela. Por quê?
– Você se lembra do rosto dela naquele instante?
Eu me lembrava. Mesmo através do nevoeiro, eu me
lembrava. Ele tinha razão. Por um rosto daqueles a gente
sacrifica até a falta de ideais.
50 A porta se abriu de novo e nós dois olhamos rápido. Mas
era apenas outro bêbado.
(Luis Fernando Veríssimo)
Assinale a alternativa que não contenha um advérbio.
A) não (L.1)
B) fora (L.9)
C) aqui (L.18)
D) logo (L.23)
E) Mais (L.37)
O "mais" nesse caso, exerce a função de conjunção aditiva(mais uma ideia de outras). O mais será advérbio quando intensificar ou modificar o sentido de uma palavra. Ex: Falou mais alto. Vale ressaltar que o advérbio se relaciona com adjetivo, verbo ou outro advérbio. Bizu: Advérbio não gosta de substantivo.
(fgv 2024) As frases a seguir mostram a presença do advérbio não e todas elas foram reescritas de modo a eliminá-lo.
Assinale a opção em que a mudança mudou o sentido original da frase.
A) A política não tem entranhas. / carece de.
B) No Brasil, costumamos chamar de “picareta” aqueles que conseguem fazer do seu jeito o que não conseguimos fazer do nosso. / fracassamos em.
C) O político deve buscar sempre a aprovação, porém não o aplauso. / jamais.
D) Um conservador é um homem com duas excelentes pernas que, contudo, não aprendeu a andar para a frente / desaprendeu.
Quem não aprendeu é impossível desaprender.
E) Não tem poder quem acha que politicamente não tem poder / é impotente.
(fgv 2024) Assinale a opção que apresenta a frase em que a locução adverbial sublinhada foi substituída, adequadamente, por um advérbio de mesmo significado.
A) Agia todos os dias da mesma forma. / frequentemente.
B) À força de conceder direito a todos, a democracia é o regime que mata com mais segurança. / securitariamente.
C) Dos poderosos nada se consegue que não seja cobrado em dobro. / dualmente.
D) Não se faz política sem vítimas. / impunemente.
E) Praticava os crimes da mesma forma. / igualitariamente.
(idib 2022) Ainda utilizando a palavra inexoravelmente, assinale a alternativa correta que define a qual classe de palavras ela pertence: Advérbio
Advérbio de modo.
(idib 2024) A escala de tempo dos oceanos não é tão rápida quanto a da atmosfera. (linhas 9 e 10)
Diante do período acima, identifique a classificação do advérbio destacado, bem como, a sua flexão de grau: Intensidade / Igualdade.
Grau comparativo
a) de igualdade: Ele fala tão alto quanto o irmão.
b) de inferioridade: Ele fala menos alto do que o irmão.
c) de superioridade: Ele fala mais alto do que o irmão.
Grau superlativo
a) absoluto analítico: Ele fala muito alto.
b) absoluto sintético: Ele fala altíssimo
Advérbios de intensidade
Assaz, bastante, bem, demais, mais, menos, muito, pouco, tão, quase, quanto, demais, meio, todo, apenas, demasiadamente, em excesso, em demasia, por completo etc.
(fcc 2024) No trecho Não são só os caiçaras, quilombolas e povos indígenas, mas toda vida que deliberadamente largamos à margem do caminho (1º parágrafo), a palavra “só” cumpre a função de: advérbio.
Por eliminação restavam preposição e advérbio, relembro que não tinha como ser preposição porque são em sua maioria somente: "a", "ante", "até", "com", "contra", "de", "desde", "em", "entre", "para", "por", "perante", "sem", "sob", "sobre", "trás". O advérbio não é um termo essencial e sim acessórios o que significa que se você retirá-lo da frase continua com o mesmo sentido.
Sempre lembrar: Adjetivo = variável/Advérbio = Invariável
(fcc 2024) Devaneio, logo existo
As três pessoas que estavam comigo no elevador se recusavam a devanear. Assim como as pessoas do vagão do metrô. Foram duas rápidas observações que me levaram a respirar aliviado por ter percebido que ainda preservava a autoindulgência tanto do devaneio quanto da inspeção de atitudes alheias. A crítica de “ninguém mais conversa; todo mundo anda e até come com a fuça no celular” nunca me convenceu, pois se a pessoa não está prejudicando ninguém, que faça o que bem entender. No meu conceito, porém, ela está deixando de existir como indivíduo, pois é no devaneio, na contemplação e na troca que se imprime identidade no mundo.
Explico melhor. E para isso recorro à inteligência artificial generativa, uma evocação à própria base de dados para geração de conteúdos novos, sejam textos, áudios, músicas, imagens ou vídeos. E o que é essa jornada se não o próprio caminho do processo criativo, por onde estabelecemos nossa assinatura? Os pensamentos não nascem no vácuo. As descobertas tampouco. Insights germinam do correlacionamento de memórias, da conexão das diferentes peças no repertório intelectual que fomos colecionando no decorrer da vida. A iluminação é elaborada em nosso devaneio. Só que cada vez menos somos propensos à permissão de experiências tão somente contemplativas. Até o caminhar precisa ser preenchido por fone de ouvido, consumo de notícias, checagem de mensagens de Whatsapp.
Quando dizem que a meditação é um dos pilares de estilo de vida saudável não explicam devidamente sua importância. O próprio René Descartes, inspirador do título deste artigo e do cartesianismo, lançou obra chamada Meditações. Também não é explícito o risco do comodismo de entregar tudo o que tona humana a nossa espécie a um dispositivo. Já é sabido desde o século 18, na Revolução Industrial, que as máquinas são superiores em produção. Só que a mecanização não ativa a inteligência nem a razão, que são as ligas da vida e do real progresso dos seres humanos. Ainda no século 17 os filósofos iluministas ensinaram o valor do devaneio na formação de pessoas com melhores decisões morais.
(Adaptado de: PIMENTAL, Luiz Cesar. Revista Isto é, 15/03/2024. Disponível em: https://istoe.com.br)
O uso do advérbio “também” (3º parágrafo) implica dois aspectos no texto: a importância da meditação e o risco do comodismo.
Quando dizem que a meditação é um dos pilares de estilo de vida saudável não explicam devidamente sua importância. O próprio René Descartes, inspirador do titulo deste artigo e do cartesianismo, lançou obra chamada Meditações. TAMBÉM não é explicito o risco do comodismo de entregar tudo o que torna humana a nossa espécie a um dispositivo. Já é sabido desde o século 18, na Revolução Industrial, que as máquinas são superiores em produção. Só que a mecanização não ativa a inteligência nem a razão, que são as ligas da vida e do real progresso dos seres humanos.
O advérbio "também" é utilizado no texto para adicionar uma ideia a outra já mencionada, indicando que há uma relação de soma/complementariedade entre dois aspectos que o autor considera importantes ou relacionados.
não explicam devidamente sua importância (importância da Meditação).
TAMBÉM não é explicito o risco do comodismo de entregar tudo o que torna humana a nossa espécie a um dispositivo.
Nesse caso, o "também" conecta a importância da meditação à crítica do comodismo, sugerindo que ambos são relevantes no contexto da discussão sobre devaneio e existência humana.
(fgv 2024) Todas as frases abaixo mostram advérbios ou locuções adverbiais sublinhados.
A frase em que ocorre uma substituição adequada de cada termo por outro(s) equivalente(s) com o mesmo sentido é:
A) Ou ouvidos toleram mais facilmente uma injúria do que os olhos / com mais dificuldade;
B) Antes da construção de um muro, pergunto quem estou murando e quem estou deixando do lado de fora / antes de construirmos um muro;
C) Quando o mentiroso fala a verdade, ninguém acredita / o mentiroso, ao falar a verdade;
a palavra "ao" é uma redução da palavra "quando".
Ex.:
As folhas brotarão quando chover.
As folhas brotarão ao chover.
São palavras equivalentes;
"quando" e "ao" indicam tempo
D) Eu chego ao sucesso, nem que seja pela honestidade / mesmo que seja com desonestidade;
E) O acaso é um deus e um diabo ao mesmo tempo / prioritariamente.