Gêneros textuais e domínios discursivos

Como é cobrado em Editais: Gêneros textuais e domínios discursivos: textos informativos, publicitários, propagandísticos, normativos, didáticos e divinatórios; características específicas de cada gênero. 

Texto divinatório - função: prever Modelos: horóscopo, oráculos



QUESTÕES RESOLVIDAS E COMENTADAS


(fgv 2015) Texto 1 – Mandamentos do consumismo I

   A publicidade cerca-nos de todos os lados - na TV, nas ruas, nas revistas e nos jornais – e força-nos a ser mais consumidores que cidadãos. Hoje, tudo se reduz a uma questão de marketing. Uma empresa de alimentos geneticamente modificados pode comprometer a saúde de milhões de pessoas. Não tem a menor importância, se uma boa máquina publicitária for capaz de tornar a sua marca bem aceita entre os consumidores. Isso vale também para o refrigerante que descalcifica os ossos, corrói os dentes, engorda e cria dependência. Ao bebê-lo, um bando de jovens exultantes sugere que, no líquido borbulhante, encontra-se o elixir da suprema felicidade.

   A sociedade de consumo é religiosa às avessas. Quase não há clipe publicitário que deixe de valorizar um dos sete pecados capitais: soberba, inveja, ira, preguiça, avareza, gula e luxúria. Capital significa cabeça. Ensina meu confrade Tomás de Aquino (1225-1274) que são capitais os pecados que nos fazem perder a cabeça e dos quais derivam inúmeros males.

   A soberba faz-se presente na publicidade que exalta o ego, como o feliz proprietário de um carro de linhas arrojadas ou um portador de cartão de crédito que funciona como a chave capaz de abrir todas as portas do desejo. A inveja faz as crianças disputarem qual de suas famílias tem o melhor veículo. A ira caracteriza o nipônico quebrando o televisor por não ter adquirido algo de melhor qualidade. A preguiça está a um passo dessas sandálias que convidam a um passeio de lancha ou abrem as portas da fama com direito a uma confortável casa com piscina. A avareza reina em todas as poupanças e no estímulo aos prêmios de carnês. A gula, nos produtos alimentícios e nas lanchonetes que oferecem muito colesterol em sanduíches piramidais. A luxúria, na associação entre a mercadoria e as fantasias eróticas: a cerveja espumante identificada com mulheres que exibem seus corpos em reduzidos biquínis. (Frei Betto, 08/05/2011)

O enunciador de um determinado texto possui certas características específicas do gênero textual; assim o enunciador de um texto publicitário tem: um interesse a defender;

um interesse a defender = Texto Argumentativo. Publicidade defende que o produto é bom, pois quer que você o compre!


(instituto access 2023) Em um texto jornalístico, em relação à questão de gênero textual, é correto afirmar que: como tipologia narrativa, pode abarcar trechos descritivos.

(quadrix 2023) 
Considerando a estrutura e os aspectos linguísticos do texto, julgue o item abaixo.
O texto é representativo do gênero notícia, com traços claros de injunção. ERRADO
O texto apresentado não se trata de uma injunção. O texto injuntivo é uma tipologia textual que serve para instruir ou sugerir ações ao leitor. Possui como principal elemento uma explicação ou método de como uma ação deve ser realizada. Ex: Manual de instrução, receita culinária. Tipologia é a narrativa.

(fcm 2022) O texto refere-se à questão. 
A Terra é chata
Estou a fim de concordar com os terraplanistas. Mas, antes, meu cérebro terá de virar uma pizza
Um novo planeta foi descoberto por um satélite da Nasa. Fica na primeira galáxia à direita depois do Sol, a cem anos-luz daqui. É um pouquinho maior que a terra e, como se constatou, redondo, em forma de globo.
Também como a Terra, gira em torno de si mesmo e de uma estrela e é dilatado nos polos e achatado no Equador, ou vice-versa. Eles o estão chamando de TOI 700 d, sendo TOI a sigla em inglês para “Objeto de Interesse do tess”. tess é a nova sensação das varreduras espaciais: um satélite caça-planetas. Desde que entrou em ação, em 2018, já achou três. 
Para descobrir um planeta, o tess passa 27 dias observando uma estrela, de olho em qualquer oscilação de seu brilho. O que, se acontecer, terá sido provocado pela passagem de um corpo celeste —um planeta— ao redor dela. A vida é meio parada no espaço, donde não há outras opções. Mas, para não restar dúvida, exige-se que tal oscilação se dê pelo menos três vezes. Cada operação congrega um batalhão de cientistas, quase todos nóbeis, fazendo cálculos fora do alcance da nossa aritmética escolar.
Pois é armado dessa aritmética de ábaco e de contar nos dedos que um grupo de novos pitecantropos afirma que a Terra é plana, não esférica. São os terraplanistas. Indiferentes a 2.500 anos de ensinamentos por gente como Pitágoras, Aristóteles, Copérnico, Kepler, Galileu, Newton e Einstein, seus argumentos são os de uma criança de babador. Para eles, a terra é chata e em forma de pizza, como se pode constatar, dizem, olhando pela janela do avião.
Os cientistas de toda parte e de todos os tempos nos menti ram. As estações espaciais que, lá de cima, nos veem redondos e esféricos, não existem. A nasa é um estúdio de efeitos especiais. A lua também é chata. Marte, Vênus, Júpiter, idem. Eles acreditam nisso.
Estou propenso a concordar. Mas, antes, meu cérebro também terá de virar uma pizza.
CASTRO, Ruy. A terra é chata. Folha de S.Paulo. São Paulo, 20 jan. 2020. Disponível em: < htt ps://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/2020/01/a-terra-e-chata.shtml>. Acesso em: 8 fev. 2020.
Acerca de tipos e gêneros textuais, informe se é verdadeiro (V) ou falso (F) o que se afirma.
( ) O tipo textual predominante, no escrito de Castro, é argumentativo.
( ) O gênero textual, empregado por Castro, é artigo de opinião.
( ) O tipo textual predominante, no escrito de Castro, é narrativo.
( ) O gênero textual, empregado por Castro, é crônica.
De acordo com as afirmações, a sequência correta é: V, V, F, F.
Não é narrativo porque não tem enredo, personagens e outros elementos básicos para considerar o texto como tal. Não é crônica porque não parte de situações simples do dia a dia para expressar a opinião do autor. Nota-se uma tentativa de convencimento, utilizando argumentos, como, por exemplo: "Indiferentes a 2.500 anos de ensinamentos por gente como Pitágoras, Aristóteles, Copérnico, Kepler, Galileu, Newton e Einstein, seus argumentos são os de uma criança de babador". Nota-se, também, o ponto de vista, a opinião do autor.

(fepese 2024) Texto 1
Brusque é a quarta melhor cidade de médio porte do Brasil
Brusque é a quarta melhor cidade de médio porte do Brasil e a segunda no território catarinense. É o que aponta o Anuário da Revista ISTOÉ, que baseia a informação em pesquisa feita em todos os 5.565 municípios do país. O levantamento traz uma radiografia nacional, considerando áreas diretamente afetadas por políticas públicas: social, econômica, fiscal e digital.
Na avaliação do nível de desenvolvimento socioeconômico brasileiro, as cidades são divididas em três grupos: grande, médio e pequeno porte. Na categoria das cidades brasileiras de médio porte, Brusque ocupa a quarta colocação.
A liderança coube a outra cidade catarinense, Jaraguá do Sul. Em segundo lugar, aparece São Caetano do Sul e, em terceiro, Valinhos, ambas de São Paulo. E completa o chamado ‘top 5’ do ranking nacional, a cidade paranaense de Toledo. Todas as informações sobre a pesquisa e a íntegra do ranking vão ser conhecidos com a publicação da próxima edição da Revista ISTOÉ.
Para o prefeito Ari Vequi, a cidade de Brusque recebe com grande alegria a informação. “É motivo de muito orgulho, entre mais de cinco mil municípios do Brasil inteiro, estarmos nessa colocação”, comemora. Para ele, este reconhecimento também serve de estímulo para continuar o trabalho que é feito na cidade. “Nos anima muito a continuar fazendo o trabalho do dia a dia, porque o resultado está aí, a prova é que os índices nos elevam também a qualidade de vida da nossa população”.
Para formar o ranking, segundo a publicação, “foram considerados, ao todo, 281 indicadores relacionados às áreas social, econômica, fiscal e digital e permite hierarquizar as cidades com foco na igualdade das oportunidades entre seus habitantes”. E completa que as informações foram extraídas de fontes primárias públicas, como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Secretaria do Tesouro Nacional (STN), Datasus, Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Ministério do Trabalho e Emprego (TEM), entre outras.
Disponível em: https://www.brusque.sc.gov.br/noticias/brusquee-a-quarta-melhor-cidade-de-medio-porte-do-brasil-e-a-segundaem-santa-catarina-em-levantamento-de-publicacao/. Acesso em: 05 de fev 2024. Adaptado.
Quanto à tipologia e gênero, o texto 1 caracteriza-se como: dissertativo-expositivo e reportagem.

(pr4 ufrj 2022) 
TEXTO 3

DIAS DE GUERRA

Marina Manda Lembranças
Quinta-Feira, 3 de Março de 2022

     Escrevo na terça-feira, portanto impedida de saber qual será a evolução do ataque da Rússia contra a Ucrânia.
    Passei cinco anos na guerra. Mas não presenciei bombardeios como aqueles a que estão sendo submetidos os ucranianos. Somente uma vez assisti a um bombardeio, mas na varanda do nosso chalé e protegida pelos braços da minha mãe.
    Conto como isso aconteceu.
    Estava com minha prima na estação esperando o trenzinho que nos levaria para Como, que ficava a vinte minutos de distância, para tomarmos aulas de piano.
    Mas antes do trem chegar, apareceu um bando de bombardeiros em formação de ataque. Havia, perto da estação, uma base de treinamento para jovens oficiais da aeronáutica. Os camisas azuis debandaram, pensando que os bombardeiros estavam destinados a eles. Não estavam.
    Minha prima ordenou: “Você volta para casa!” Ela ficaria esperando o trem e seguiria para Como.
    Fui correndo. E comecei a chorar assim que senti o chão estremecer debaixo dos meus pés. Era muita distância e nosso chalé ficava numa encosta, o que me obrigou a subir a ladeira enquanto chorava. Lembro que apelava à minha mãe, que viesse me salvar, embora ela não soubesse que só minha prima tinha ido para Como e eu estava subindo o declive aos prantos.
    Depois, eu amparada no colo da minha mãe, nossa família ficou olhando estarrecida uma cidade próxima pegar fogo. A espionagem dos aliados tinha descoberto que, embaixo daquela cidade havia um depósito de combustível ou de munições. A maioria dos civis moradores da cidade, que a eles parecia calma e pacífica, morreu no incêndio. Aquele bombardeio foi uma carnificina.
    Olho as fotos dos ucranianos refugiados em bunkers e recordo que, quando ainda morávamos em Como, nosso pai nunca permitiu que nos refugiássemos em abrigos que, entretanto, pareciam seguros. Estava certo de que os bombardeios, quando acontecessem, romperiam as tubulações e libertariam as águas do lago de Como, cantado em prosa e verso pelos autores românticos. E nós morreríamos afogados. “A morrer como ratos – dizia – prefiro morrer de pé”.
    Cerca de um ano depois da guerra terminar, viajei de ônibus com minha mãe, meu irmão e nossa prima, tentando alcançar a costa adriática que havia sido nosso refúgio. Através das janelas empoeiradas vi muita destruição. Vi tanques e trens destroçados, lavouras com buracos enormes, provocados por obuses ou bombardeios. O mundo ao meu redor parecia ser uma ruína só.
    E finalmente atravessamos Milão. Quando morávamos no chalé, olhava o horizonte e sempre via uma coluna de fumaça. Era Milão, centro da indústria italiana, que estava sendo bombardeada. Este tipo de bombardeio constante se chamava “em tapete”, ignoro qual seja o nome disso em português.
    Atravessamos Milão quando já começava a escurecer. Vi edifícios desventrados, alguns com retratos pendurados nas paredes, outros com a marca de escadas agora inexistentes, outros ainda com ladrilhos onde ficava a cozinha e parte dos armários destroçados. Esses edifícios esvaziados de todos os seus andares, só as paredes em pé, foram os que mais impressionaram meus olhos de criança.
    Milão estava toda destruída.
    Dormimos num hotel sórdido, a cama cheia de percevejos.
    Na manhã seguinte voltamos ao ônibus, onde tínhamos nossos lugares e já nos sentíamos amparados.
    Que alívio!, quando vislumbrei pela janela entreaberta a primeira nesga de mar, espremida entre duas construções.
    Havia chegado ao meu lugar.

https://www.marinacolasanti.com/2022/03/dias-de-guerra.html Último acesso em 23/05/2022 
O texto de Marina Colasanti tem uma função social explícita por meio de seus elementos linguísticos e discursivos. De acordo com essa informação, o Texto 3 caracteriza-se por ser: uma crônica.
A crônica é um gênero textual curto escrito em prosa, geralmente produzido para meios de comunicação, por exemplo, jornais, revistas, etc. Além de ser um texto curto, possui uma "vida curta", ou seja, as crônicas tratam de acontecimentos corriqueiros do cotidiano.

(fundep 2022) INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir, para responder à questão.

Artistas se adequam para seguir protocolos e realizar eventos onlines
Lives shows durante a pandemia da Covid-19 demandam capital e contratação de profissionais qualificados
Artistas buscaram alternativas de viabilizar seus serviços com a pandemia, que impôs distanciamento social no Brasil desde março de 2021. Uma saída foi buscar editais para realização de lives shows, que demandam capital para contratação de profissionais qualificados. Foi o caso do projeto Live Show no Céu Ana Maria, localizado na cidade de Santo André, São Paulo, idealizado pela banda Pânico X em parceria com o fundo de cultura da cidade e pela Lei Aldir Blanc 14.017/20.
O projeto foi iniciado no dia 12 de junho deste ano. O evento surgiu a partir da ideia de proporcionar lazer e cultura através dos meios tecnológicos pois, desde o início da pandemia, a maioria dos artistas procura novas possibilidades de visibilizar seus serviços, dado que ainda está vetada a realização de eventos em espaços públicos – o principal meio de renda para a maioria dos artistas.
Por meio de editais proporcionados pelo governo e pela prefeitura do estado, artistas encontraram maneiras de se adaptar ao período de pandemia, se atualizando aos diferentes meios de streaming e de captação de renda através de visualizações nas redes sociais. Entretanto, é necessário que haja equipamentos e profissionais capacitados para exercer determinadas funções em um evento online.
Para o bom funcionamento de uma live, além de capital para contratação de profissionais qualificados, também é necessário o fornecimento de equipamentos específicos para captação de imagem e som, proporcionando uma melhor experiência e inserção para os espectadores.
A cidade de Santo André (SP) proporcionou tudo que é necessário para realização desses shows. Em específico para a live realizada pela banda Pânico X, houve a possibilidade de contratar profissionais de iluminação, captação de imagem e projeção e de disponibilização de um espaço público: o Céu Ana Maria. Tal espaço dispõe de um anfiteatro, iluminação, projetores, sala de mídia e vestiários.
De acordo com o vocalista Denis Oyakawa e a videomaker Thayna Messa, o funcionamento do evento e o seguimento dos protocolos foram seguidos durante toda produção e organização: “A gente gravou o nosso DVD transmitindo-o como um show online. Os protocolos contra a Covid-19, no nosso caso, foram todos respeitados: foi um evento fechado ao público, a maioria da produção já estava testada e os mais velhos vacinados, a equipe e todos permaneceram utilizando máscaras e fazendo uso do álcool em gel. Então, na parte dos protocolos e realização do evento, tudo foi bem tranquilo.”, disse o vocalista da banda, Denis Oyakawa.
Incentivo por parte do governo aos artistas
A Lei Aldir Blanc – também chamada Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural ou Lei Aldir Blanc de apoio à cultura – é como ficou denominada a Lei nº 14.017 de 29 de junho de 2020, elaborada pelo Congresso Nacional, com a finalidade de atender ao setor cultural do Brasil – o maior afetado com as medidas restritivas de isolamento social impostas em razão da pandemia de Covid-19. Sua regulamentação permitiu destinar para tal setor o valor de três bilhões de reais.
Disponível em: https://bityli.com/4P2qyF. Acesso em: 24 out. 2021 (adaptado).

O texto lido é: uma notícia, pois trata-se de um texto informativo referente a acontecimentos reais.
O texto é predominantemente expositivo informativo, pois expõe informações sem emitir qualquer tipo de opinião.

(facape 2021) TEXTO 02

A metamorfose
Luis Fernando Verissimo

Uma barata acordou um dia e viu que tinha se transformado num ser humano. Começou a mexer suas patas e viu que só tinha quatro, que eram grandes e pesadas e de articulação difícil. Não tinha mais antenas. Quis emitir um som de surpresa e sem querer deu um grunhido. As outras baratas fugiram aterrorizadas para trás do móvel. Ela quis segui-las, mas não coube atrás do móvel. O seu segundo pensamento foi: “Que horror… Preciso acabar com essas baratas…”
Pensar, para a ex-barata, era uma novidade. Antigamente ela seguia seu instinto. Agora precisava raciocinar. Fez uma espécie de manto com a cortina da sala para cobrir sua nudez. Saiu pela casa e encontrou um armário num quarto, e nele, roupa de baixo e um vestido. Olhou-se no espelho e achou-se bonita. Para uma ex-barata. Maquiou-se. Todas as baratas são iguais, mas as mulheres precisam realçar sua personalidade. Adotou um nome: Vandirene. Mais tarde descobriu que só um nome não bastava. A que classe pertencia?… Tinha educação?…. Referências?… Conseguiu a muito custo um emprego como faxineira. Sua experiência de barata lhe dava acesso a sujeiras mal suspeitadas. Era uma boa faxineira.
Difícil era ser gente… Precisava comprar comida e o dinheiro não chegava. As baratas se acasalam num roçar de antenas, mas os seres humanos não. Conhecem-se, namoram, brigam, fazem as pazes, resolvem se casar, hesitam. Será que o dinheiro vai dar? Conseguir casa, móveis, eletrodomésticos, roupa de cama, mesa e banho. Vandirene casou-se, teve filhos. Lutou muito, coitada. Filas no Instituto Nacional de Previdência Social. Pouco leite. O marido desempregado… Finalmente acertou na loteria. Quase quatro milhões! Entre as baratas ter ou não ter quatro milhões não faz diferença. Mas Vandirene mudou. Empregou o dinheiro. Mudou de bairro. Comprou casa. Passou a vestir bem, a comer bem, a cuidar onde põe o pronome. Subiu de classe. Contratou babás e entrou na Pontifícia Universidade Católica.
Vandirene acordou um dia e viu que tinha se transformado em barata. Seu penúltimo pensamento humano foi: “Meu Deus!… A casa foi dedetizada há dois dias!…”. Seu último pensamento humano foi para seu dinheiro rendendo na financeira e que o safado do marido, seu herdeiro legal, o usaria. Depois desceu pelo pé da cama e correu para trás de um móvel. Não pensava mais em nada. Era puro instinto. Morreu cinco minutos depois, mas foram os cinco minutos mais felizes de sua vida. Kafka não significa nada para as baratas…
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. A metamorfose. in Ed Morte e outras histórias. Porto Alegre. L&PM Editores, 1979.)
A diferenciação entre tipos textuais e gêneros textuais se apresenta em diversos níveis. O texto apresentado (A Metamorfose) se insere na tipologia (i) _____________________________. Embora essa seja a tipologia predominante; segundo Luiz Antônio Marcuschi (Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão), há certa heterogeneidade tipológica nos textos em geral, como no trecho a seguir “Todas as baratas são iguais, mas as mulheres precisam realçar sua personalidade”, no qual se evidencia a tipologia (ii)_________________________ , posto que há a emissão de uma ideia genérica a respeito do comportamento feminino. Já sua classificação em gênero se dá como (iii) _____________________; um gênero que evoluiu com o passar do tempo, saindo da esfera (iv) ______________________ e passando ao universo literário propriamente dito.
As palavras que completam, respectiva e corretamente, os espaços do texto anterior são: narrativo; argumentativo; crônica; jornalística.

(fadespe 2019) Na distinção entre gêneros e tipos textuais, Luiz Antônio Marcuschi os diferencia, respectivamente, por critérios: sócio-comunicativos e linguísticos. 

(funatec 2024) A LUTA CONTRA O RACISMO É DE TODA A SOCIEDADE 



          O início de agosto foi marcado por um caso de racismo que ocupou o noticiário nacional e internacional. Refiro-me ao ataque racista contra a filha e o filho dos atores Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, duas crianças negras, além de uma família angolana, desferido por uma mulher branca no litoral de Portugal, no dia 30 de julho. Primeiro, como mãe, minha solidariedade à Giovana pela reação que teve ao perceber que suas filhas crianças estavam sendo vítimas de um ataque brutal. A segunda questão que gostaria de refletir para contribuir com um entendimento que considero fundamental: o racismo é um problema de toda a sociedade. Repito aqui a pergunta feita por Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso nas entrevistas que concederam para falar do episódio: e se os pais fossem negros, o que teria ocorrido? É muito triste perceber que talvez a situação pudesse ser outra.

            Infelizmente, essa é a realidade que temos visto diariamente em episódios onde pessoas negras, sejam crianças, mulheres, homens, jovens, idosos são agredidos verbal ou fisicamente por atos racistas. O noticiário nos mostra essa devastadora realidade todos os dias. O 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho de 2022, mostra que 78% das vítimas de mortes violentas no Brasil são negros enquanto 21,7% são brancos. No caso das mortes provocadas pela polícia, o dado é ainda pior: 84% dos alvos são negros. O estudo também mostra que entre os policiais militares ou civis mortos em situação violenta, 67,7% deles são negros. No caso das mulheres vítimas de feminicídio, 62% são negras e 37,5% são brancas, o que mostra uma realidade estruturalmente desigual no momento em que precisam buscar ajuda, acolhimento ou socorro nos serviços públicos.

         Os números mostram que o racismo é um problema estrutural, o que faz desse crime uma questão que envolve não apenas a população negra, mas principalmente a população branca. O Brasil é um país negro e feminino, localizado numa América africana e indígena, como nos ensina Lélia Gonzalez. Somos 56% de pessoas negras e 52% de mulheres. Mas, infelizmente, nossa história social, política e cultural é estruturada na violência da colonização branca europeia que fez do sequestro e escravização dos povos africanos a base da economia brasileira. Uma colonização que nega a nossa africanidade cultural e social. Não há democracia num país onde 56% da população está sob constante ameaça, num país onde crianças, jovens e adultos correm o risco de serem presos ou mortos porque são pretos.

        A luta contra o racismo precisa ser incorporada como um problema de brancos, sobretudo porque como grupo social é onde o racismo é naturalizado pela negação de sua existência. Ao contrário do que ideologias racistas pretendem afirmar, não vivemos numa democracia racial. Os números acima comprovam isso. Por isso, não basta sermos contra o racismo, precisamos ter uma atitude antirracista.

           No livro de Djamila Ribeiro “Pequeno Manual Antirracista”, a escritora feminista e pensadora negra nos ensina a buscar o autoquestionamento como um método antirracista: “onde estão as pessoas negras? Por que elas não estão aqui? Se estão, qual o lugar elas ocupam? Por quê”. A ruptura com a ideologia racista passa por nominar o racismo e, ao mesmo tempo, questionar e enfrentar práticas cotidianas que reforçam a cultura do apagamento e do desrespeito à população negra.

       O aprofundamento atual do neoliberalismo não deixa dúvidas do impacto destrutivo para as comunidades periféricas: mais pobreza, precarização de serviços públicos e ampliação da violência racista e machista, com o agravamento dos assassinatos da população negra e dos feminicídios. Como gestores públicos, entendo que o racismo e o machismo precisam ser considerados com políticas transversais de raça e gênero para que as políticas públicas avancem na ruptura com práticas institucionais e estruturais que ignoram as realidades específicas das periferias, da população negra, das mulheres, da população LGBTQIA+, das pessoas com deficiência. É ao lado dessas maiorias invisibilizadas e subalternizadas que lutamos.

     O compromisso com a democracia passa por buscarmos uma sociedade mais inclusiva. E essa inclusão só será possível se rompermos com políticas institucionais racistas e misóginas. Como ex-prefeita e deputada estadual, uma mulher branca com atuação na política, penso que meu dever como militante feminista e antirracista é ser uma aliada na luta antirracista. Precisamos falar sobre a branquitude, sobre o que significa pertencer ao grupo étnico branco e o que podemos fazer para desnaturalizar a violência racista que tenta apagar a africanidade de nossa cultura e identidade nacional. Combater o racismo e o machismo precisa ser compromisso de toda a sociedade efetivamente.

(Por Stela Farias. ADAPTADO. Site Brasil de Fato.
Publicado em 05/08/2022. Disponível em
https://www.brasildefators.com.br/2022/08/05/arti
go-a-luta-contra-o-racismo-e-de-toda-a-sociedade)
Podemos inferir que o texto é predominantemente: Opinativo
O texto opinativo é o mesmo que artigo de opinião: O autor expressa suas ideias, sentimentos, críticas e pontos de vista sobre determinado assunto.

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