Língua Portuguesa: Tipos de discurso

O discurso direto é caracterizado por ser uma transcrição exata da fala das personagens, sem participação do narrador. Exemplo de discurso direto:

A aluna afirmou:

- Preciso estudar muito para o teste.


O discurso indireto é caracterizado por ser uma intervenção do narrador no discurso ao utilizar as suas próprias palavras para reproduzir as falas das personagens. Normalmente, esse discurso é escrito em terceira pessoa. Exemplo de discurso indireto:

A aluna afirmara que precisava estudar muito para o teste.


Na transposição do discurso direto para o indireto devem-se observar algumas regras quanto tempo do verbo, ou seja, sairá de um tempo para o outro:

Presente do indicativo ==> vai para o Pretérito imperfeito do indicativo:
Ex: como na questão :Assalta-me ====> disse que lhe assaltaVA.

Pretérito perfeito do ind. ===> vai para o Pretérito-mais-que-perfeito do indicativo;
Ex: FUI feliz ===> disse que FORA feliz.

Futuro do presente ===> vai para o Futuro do pretérito do indicativo.
Ex: Serei aprovada ==> disse que SERIA aprovada.

Presente do Subjuntivo ===> vai para o Pretérito Imperfeito do Subjuntivo
Ex: Tomara que ele vença o torneio. ===> Desejou que ele vencesse o torneio.

Imperativo ====> vai para o Pretérito Imperfeito do Subjuntivo
Ex: Faça a lição agora mesmo! =====> Ordenou que ele fizesse sua lição aquele momento.

Se queremos transpor um discurso direito para um indireto, basta pensar que o autor (no discurso indireto) está narrando um fato já ocorrido. Em suma, na maioria dos casos, os verbos ficarão em algum modo do pretérito. Não tome essa dica como algo geral e absoluto, mas ela pode te ajudar a eliminar muitos casos fora desse padrão se você não se lembrar das regras específicas. 

Questões comentadas


(fcc 2019) [Formas de ler]

      Antigamente eu apanhava e largava um livro sem me preocupar com outra coisa que não as parcelas de realidade e de fantasia encerradas naquele maço de folhas impressas. Mais aberto à emoção, reparava menos na técnica; atraído pela obra, pouco me interessava pelo escritor.

      A leitura profissional, os estudos de literatura e algumas incursões no campo da crítica acabaram com esse leitor irresponsável. Hoje, ao pegar um livro, penso no homem que se encontra atrás das frases, em suas ambições e seus objetivos, seus materiais e ferramentas. O que antes se me apresentava como a beleza imaterial de uma flor ou de uma nuvem, soltas no tempo e no espaço, depara-se-me como o produto de um artesanato e a manifestação de uma vontade inteligente.

      Por isso dificilmente leio agora um livro isolado em si mesmo. Vem-me logo a vontade de percorrer outras obras do escritor, de aferrar nelas os traços de uma personalidade diferente das outras, de chegar ao canal misterioso que une a criação ao criador. Daí também uma curiosidade biográfica, como se a vida do autor necessariamente encerrasse um segredo, uma chave para a compreensão da obra.

(RÓNAI, Paulo. Como aprendi o Português e outras aventuras. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, p. 137) 

Transpondo-se adequadamente para o discurso direto a frase O autor nos esclareceu que ele, quando jovem, revelou-se desatento aos aspectos técnicos de uma obra que estivesse a ler, obtém-se esta correta construção: O autor nos esclareceu:

A) − os aspectos técnicos de uma obra que estivesse lendo revelaram-se pouco atentos quando eu era jovem.

B) − quando jovem, eu me revelei um desatento aos aspectos técnicos de uma obra que estivesse lendo.

Apenas uma dica: A construção verbal "estivesse a ler" assim como outras construções semelhantes, a exemplo: "estava a fazer" "estava a cantar" podem ser substituídas (equivalem) a uma frase no gerúndio. Ex: estava a fazer = estava fazendo; estava a cantar = estava cantando

C) − quando jovem, revelou-se-me um desatento aos aspectos técnicos da obra que se apresentassem, à medida em que a lia.

D) − os aspectos técnicos de uma obra me revelaram, ainda jovem, como desatento a estes aspectos da mesma, quando a lia.

E) − revelei-me jovem quando me mostrei desatento em face dos aspectos técnicos de uma obra que lesse.


(fcc 2019) O poeta, quanto mais individual, mais universal, pois o homem, qualquer que seja o meio e a época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano. Embora, eu que o diga, seja tão difícil ser assim autêntico. Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócrifos.

       Se estas linhas estão te aborrecendo é porque és poeta mesmo. Modéstia à parte, as digressões sobre poesia sempre me causaram tédio e perplexidade. A culpa é tua, que me pediste conselho e me colocas na insustentável situação em que me vejo quando alunos dos colégios vêm (por inocência ou maldade dos professores) fazer pesquisas com perguntas assim: “O que é poesia? Por que se tornou poeta?”. A poesia é destas coisas que a gente faz mas não diz.

      Não sei como vem um poema. Às vezes uma palavra, uma frase ouvida, uma repentina imagem que me ocorre nas ocasiões mais insólitas. A esta imagem respondem outras (em vez de associações de ideias, associações de imagens; creio ter sido esta a verdadeira conquista da poesia moderna). Não lhes oponho trancas nem barreiras. Vai tudo para o papel. Guardo o papel, até que um dia o releio, já esquecido de tudo. Vem logo o trabalho de corte, pois noto o que estava demais. Coisas que pareciam bonitinhas, mas que eram puro enfeite, coisas que eram puro desenvolvimento lógico (um poema não é um teorema), tudo isso eu deito abaixo, até ficar o essencial, isto é, o poema.

      Um poema tanto mais belo é quanto mais parecido for com um cavalo. Por não ter nada de mais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da criação. Como vês, para isso é preciso uma luta constante. A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos dezessete anos.

(Adaptado de: QUINTANA, Mario. “Carta”. Melhores poemas. São Paulo: Global Editora, 2005, edição digital) 

Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócrifos. (1° parágrafo)

A frase acima está corretamente transposta para o discurso indireto do seguinte modo:

Disse que, às vezes,

A) assaltou-lhe o terror de que todos os seus poemas me eram apócrifos.

B) assaltava-lhe o terror de que todos os seus poemas fossem apócrifos.

Na transposição do discurso direto para o indireto devem-se observar algumas regras quanto tempo do verbo, ou seja, sairá de um tempo para o outro: Presente do indicativo ==> vai para o Pretérito imperfeito do indicativo: Ex: como na questão :Assalta-me ====> disse que lhe assaltaVA. Pretérito perfeito do ind. ===> vai para o Pretérito-mais-que-perfeito do indicativo; Ex: FUI feliz ===> disse que FORA feliz. Futuro do presente ===> vai para o Futuro do pretérito do indicativo. Ex: Serei aprovada ==> disse que SERIA aprovada.

C) teria sido assaltado pelo terror de que todos os meus poemas foram apócrifos.

D) fui assaltado pelo terror de que todos os meus poemas serão apócrifos.

E) será assaltado pelo terror de que todos os seus poemas lhe eram apócrifos.


(fcc 2018) Batizada Arlette e sublimada como Fernanda, a atriz carioca moldou − e continua moldando − cada personagem vivida no rádio, no teatro, no cinema e na televisão por 75 anos. Leia abaixo um trecho da entrevista de Fernanda Montenegro à Revistae.

Por viver tantos personagens, o ator não se torna um ser diferente?

− Nós somos estranhos. Porque, o que é que nós somos? Esquizofrênicos? Só não estamos num hospício porque nos aceitamos e nos aceitam quando acertamos. É uma vida dupla. Você tem um espetáculo à noite e faz toda sua vida durante o dia, seja ela qual for, uma vida calma, incontestada, desassossegada, e à noite, você tem que dar conta de outra esfera. Ninguém te obriga a ir [trabalhar]. Nem quando você passa pela perda de um amor. A gente até acha que aquele amor teria gostado se você fosse lá fazer seu espetáculo. Ítalo Rossi perdeu um irmão num desastre e fez o espetáculo da noite. Estou contando um caso extremo, mas isso acontece.

Em casos como esse dá para guardar as emoções?

− A gente não guarda emoção. A gente vai [trabalhar] com o que acontece, com o que bate na hora. Cada plateia provoca outro estágio no espetáculo. Tem sempre alguma coisa [que muda] porque é tudo muito sutil, embora você faça sempre o “mesmo” gestual. É algo imponderável e inexplicável. Porque é o seguinte, não é só uma pessoa, um elenco e a plateia. Ali tem que haver uma comunhão. Porque às vezes um ator está de um lado do palco, outro ator está do outro lado, eles se olham e dizem: “Hoje não vai sair como a gente quer”. É uma energia cósmica. Mas nunca é exatamente a mesma coisa. Não é. Tanto que às vezes uma pessoa vai ver o espetáculo e se apaixona, mas um amigo vai ver e não gosta, não entrosou, não comungou, entendeu? Não deveria haver uma luta para conquistar a plateia, mas provocar fascínio e buscar uma comunhão.

O que significa esse ofício de atriz?

– É como se fosse um ato religioso: você entra no teatro e espera começar. Já estão todos sentados? Já está na hora? Aí, faz-se alguma coisa: toca-se uma campainha, uma luz muda, os atores entram mesmo com a luz... Ou seja, tem um início. Aí você fica diante de um ser humano. É como uma missa. O que é o padre? Um ator. Ele está ali paramentado, num cerimonial religioso. Se é Páscoa, é uma cor, se é Semana Santa ou Natal, são outras cores. Se fala um texto, não deixa de ser um auto medieval, e as pessoas ficam ali. Acho que, no fundo, tudo na vida é um teatro. Já falava o Velho Bardo [William Shakespeare]: para cada pessoa, você se apresenta, mesmo que um pouquinho, de maneira diferente. Às vezes até a cada hora do dia, até para você mesmo. Quem é a gente?

                                                  (Adaptado de: Revistae, São Paulo, Sesc, jul. 2018.) 

...o ator não se torna um ser diferente? - Nós somos estranhos.

Mantendo-se a correção e, em linhas gerais, o sentido, as frases acima encontram-se transpostas para o discurso indireto em:

A) Ao ser questionada sobre se o ator se tornaria um ser diferente, Fernanda Montenegro respondeu que eles seriam estranhos.

O discurso indireto é “de segunda mão”, o narrador utiliza as suas próprias palavras para reproduzir as falas das personagens. Sintaticamente, a fala das personagens vira uma oração subordinada substantiva sempre estruturada a partir de um verbo dicendi (de dizer: disse, falou, sussurrou, perguntou, indagou, respondeu, ordenou etc).

B) Quando fosse questionada sobre se o ator se torna um ser diferente, Fernanda Montenegro responderia que eles são estranhos.

correto seria "foi"

C) À pergunta sobre o ser diferente que o ator se torna, Fernanda Montenegro responde que seríamos estranhos.

D) Fernanda Montenegro responde à pergunta sobre quão diferente se tornaria um ator, dizendo que seríamos estranhos.

o correto seria "disse"

E) Fernanda Montenegro, ao responder à pergunta sobre como um ator se torna um ser diferente, teria dito: somos estranhos.

 o temo composto "teria dito" equivale ao pretérito mais-que-perfeito "dissera", sendo incorreto para um discurso indireto, o correto seria o uso do presente do indicativo e o desenvolvimento da oração: disse que somos estranhos.


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